Devias ter-te ido embora (Du hättest gehen sollen, 2016) é um interessante e finamente executado exemplar da novela sobrenatural. Um escritor aluga uma casa nos Alpes (para si, a mulher e a filha, de 4 anos) com o fito de, aliando a reclusão, as potencialidades inspiradoras da paisagem e o lazer, concluir um guião cinematográfico. Mas, além de divergências conjugais que cedo se nos revelam, outros elementos discordes, de natureza diferente, irrompem na casa — e em primeiro lugar no seu próprio caderno de notas — e vão prosperando até ao final aberto. A narração (o guião cinematográfico que se transfigura em diário) manipula com astúcia o pausado crescendo de vinhetas sobre episódios inquietantes e Daniel Kehlmann revela um domínio maturado do seu dispositivo narrativo.
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