segunda-feira, 10 de maio de 2021

POEMAS DOUTRAS LÍNGUAS

 

Derek Walcott:

Amor atrás de amor 

Virá o tempo

em que, com júbilo,

saudarás a chegada de ti próprio

à tua porta, no teu espelho,

e cada um sorrirá ao acolhimento do outro

e dirá, senta-te aqui. Come.

Voltarás a amar o desconhecido que eras tu próprio.

Oferece vinho. Oferece pão. Oferece-te o teu coração,

ao desconhecido que te amou

toda a tua vida, a quem ignoraste

em favor de outrém, que te conhece de cor e salteado.

Tira as cartas de amor da estante,

as fotografias, os bilhetes desesperados,

descasca a tua própria imagem do espelho.

Senta-te. Frui a tua vida. 

Derek Walcott,

Collected Poems 1848-1984 (1986)

 

Love After Love

The time will come

when, with elation,

you will greet yourself arriving

at your own door, in your own mirror,

and each will smile at the other’s welcome,

and say, sit here. Eat.

You will love again the stranger who was your self.

Give wine. Give bread. Give back your heart

to itself, to the stranger who has loved you

all your life, whom you ignored

for another, who knows you by heart.

Take down the love letters from the bookshelf,

the photographs, the desperate notes,

peel your own image from the mirror.

Sit. Feast on your life.

 

Derek Walcott,Collected Poems 1848-1984 (1986) 

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Poeta e dramaturgo, Derek Walcott (nascido na Ilha de Santa Lucia, ex-colónia das Índias Ocidentais Britânicas, em, 1930), cuja obra acolhe o cânone ocidental e a tradição linguística e histórica caribenha, publicou o seu primeiro poema  num jornal local  aos 14 anos e, aos 19, com 200 dólares emprestados, o seu primeiro livro de poesia (uma coleção de 25 poemas), que ele vendeu nas ruas. Entre as suas obras conta-se In a Green Night: Poems 1948-1960 (1962), Tiepolo’s Hound (2000), The Prodigal (2004), Selected Poems (2007), White Egrets (2010), e Morning, Paramin (2016); para muitos leitores e críticos, o seu épico Omeros (1990), que glosa a guerra de Tróia encenada como um combate caribenho, é a sua obra maior. Em 1992, ganhou o Nobel da Literatura.
  Morreu em 2007.

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