terça-feira, 28 de outubro de 2014

HISTÓRIAS COM HISTÓRIA


Um pastor que matou a fome ao rei

 

A caça era, para o rei e para os nobres, uma forma de, em tempo de paz, se exercitarem e prepararem para a guerra. A função da nobreza era defender a comunidade e, em caso de necessidade, ajudar o rei a defender o reino.

O rei D. Sebastião era um apaixonado pelo exercício da caça. Mostrava-se disposto, por exemplo, a suportar os rigores do Inverno, ao vento e à chuva.

Um dia, na coutada de Almeirim, D. Sebastião atravessou um ribeiro fundo onde a água lhe dava pela cintura. Numa outra ocasião, correndo atrás de um porco montês, afastou-se tanto que, juntamente com um fidalgo que o acompanhava, acabou por se perder no mato. O entusiasmo era tanto que nem deu pelo tempo passar. Quando reparou já começava a anoitecer. E o rei ali perdido no meio do mato…..

Encontrou um pastor, que por ali guardava os seus gados, e perguntou-lhe o caminho de regresso. O rei não se identificou, não disse quem era, e o pastor não reconheceu a pessoa com quem falava. O pastor lá indicou o caminho àquele seu desconhecido. D. Sebastião perguntou ainda se ele tinha algum pedaço de pão que lhe desse, pois estava com imensa fome. O pastor respondeu que apenas tinha um pouco de pão, mas já duro e preto. Mas D. Sebastião insistiu, pois a fome era muita. Face à insistência, o pastor lá repartiu aquele seu pão.

Mais tarde, D. Sebastião terá comentado, junto dos seus mais próximos, fidalgos e conselheiros, que “nunca em toda sua vida, comera cousa que milhor lhe soubesse”……

 
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Fonte:  Padre Amador Rebelo, Relação de vida d'Elrey D. Sebastião, Leitura, Introdução e notas de Francisco de Sales de Mascarenhas Loureiro, Sep. Rev. Fac. Letras Lisboa, 4a série, vol. 2, 1977 (adapt.)

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