Um pastor que matou a fome ao rei
A caça era, para o rei e
para os nobres, uma forma de, em tempo de paz, se exercitarem e prepararem para
a guerra. A função da nobreza era defender a comunidade e, em caso de
necessidade, ajudar o rei a defender o reino.
O rei D. Sebastião era um
apaixonado pelo exercício da caça. Mostrava-se disposto, por exemplo, a
suportar os rigores do Inverno, ao vento e à chuva.
Um dia, na coutada de
Almeirim, D. Sebastião atravessou um ribeiro fundo onde a água lhe dava pela
cintura. Numa outra ocasião, correndo atrás de um porco montês, afastou-se
tanto que, juntamente com um fidalgo que o acompanhava, acabou por se perder no
mato. O entusiasmo era tanto que nem deu pelo tempo passar. Quando reparou já
começava a anoitecer. E o rei ali perdido no meio do mato…..
Encontrou um pastor, que
por ali guardava os seus gados, e perguntou-lhe o caminho de regresso. O rei
não se identificou, não disse quem era, e o pastor não reconheceu a pessoa com
quem falava. O pastor lá indicou o caminho àquele seu desconhecido. D.
Sebastião perguntou ainda se ele tinha algum pedaço de pão que lhe desse, pois
estava com imensa fome. O pastor respondeu que apenas tinha um pouco de pão,
mas já duro e preto. Mas D. Sebastião insistiu, pois a fome era muita. Face à
insistência, o pastor lá repartiu aquele seu pão.
Mais tarde, D. Sebastião
terá comentado, junto dos seus mais próximos, fidalgos e conselheiros, que “nunca
em toda sua vida, comera cousa que milhor lhe soubesse”……
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Fonte: Padre Amador Rebelo, Relação de vida d'Elrey D. Sebastião, Leitura, Introdução e notas
de Francisco de Sales de Mascarenhas Loureiro, Sep. Rev. Fac. Letras Lisboa, 4a série, vol. 2, 1977 (adapt.)
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