segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Histórias com HISTÓRIA


Correr a ponte a cavalo:

- valentia ou doidice?

Durante a Idade Média, os reis e as suas cortes não estavam sempre no mesmo local. Tinham caráter itinerante. Muitas vezes faziam-no para fugir à peste – doença contagiosa e para a qual não existia cura.

A corte circulava entre Lisboa, Évora, Santarém, Almeirim, Montemor--o-Novo, Sintra, Salvaterra de Magos…etc.

Muitas vezes, os reis, acompanhados dos seus fidalgos mais próximos, faziam incursões nas terras circunvizinhas, para caçar, para contactar com as autoridades locais, para ouvir os grandes senhores dos concelhos, as dificuldades, os anseios…etc.

Conta-se que um dia, o rei D. Afonso V, de passagem por Coruche, disse a um seu nobre cavaleiro, que integrava a comitiva régia, que seria grande valentia correr a ponte a cavalo. Ora, a ponte sobre o rio Sorraia em Coruche devia ser frágil e aquele exercício seria muito perigoso e altamente arriscado.

Mas o nobre cavaleiro não quis mostrar fraqueza. Era a sua honra que estava em jogo. Os homens honrados, os grandes senhores da nobreza, não podiam ter medo da morte. E aquele nobre, não se negando ao “desafio” do seu rei e senhor, foi mesmo correr a ponte a cavalo. No fim, foi ter com o rei e, desgostoso, disse-lhe:

– “Senhor, estou para me despedir de vós por duas razões: a uma por haverdes isto por valentia; e a outra por quererdes que, por uma doidice, morra um tal cavaleiro como eu”.

 

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Fonte:  Ditos Portugueses dignos de memória, 3ª ed., Actualização, introdução e comentários de José Hermano Saraiva, Mem Martins, Publicações Europa-América, s.d. (adapt.).

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