El rei
disfarçado:
Uma
travessura de D. Manuel I
Os reis costumavam ir em peregrinação aos
principais santuários, quer da Península Ibérica quer da cristandade.
Conta-se que indo el-rei D. Manuel em romaria
ao santuário da Santiago de Compostela, na Galiza, e como não queria ser lá
reconhecido, fez-se acompanhar apenas por sete ou oito fidalgos (muito pouco
para o que era habitual numa comitiva régia). Era costume o rei fazer-se
acompanhar sempre por um numeroso séquito de fidalgos e criados. Dessa forma se
mostrava o poder, o prestígio, notoriedade e reconhecimento social.
El-rei para se divertir, para seu
“desenfadamento”, indicou então, um dos fidalgos para fingir ser a figura
principal daquela comitiva, ordenando aos demais para acatarem as ordens de quem
fosse indicado para o efeito. A escolha recaiu em D. João de Sousa, senhor de
Sagres e Nisa e guarda-mor do rei. Seria ele a “liderar” aquela comitiva onde o
rei seguia, mas disfarçado. Dessa vez não queria ser notado.
Chegados a Santiago, e ao entrarem na igreja,
pediram aos padres para lhes mostrarem as relíquias do apóstolo São Tiago. Os
padres ao verem que todos faziam “grande acatamento” a D. João, era com ele que
mais conversavam e lá iam explicando tudo o que iam mostrando. D. João,
fingindo ser ele o principal, e cumprindo exemplarmente o seu papel, mantinha
sempre um ar “muito sisudo e severo”, muito “grave e encadarroado”.
D. Manuel, «livre» do duro ofício de rei, e
para seu “desenfadamento”, quis fazer uma travessura a D. João de Sousa para se
divertir e pô-lo à prova. Colocou-se então atrás dele e picou-o com um
alfinete. D. João, percebendo a travessura do rei, mas “sem mudar a gravidade
do rosto”, ordenou-lhe:
- Ora passai-vos para acolá.
E el-rei teve mesmo de lhe obedecer…..
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Fonte:
Ditos Portugueses dignos de memória, 3ª ed., Actualização,
introdução e comentários de José Hermano Saraiva, Mem Martins, Publicações
Europa-América, s.d. (adapt.).
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