quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

HISTÓRIAS COM HISTÓRIA


A matança do porco:

- festa e subsistência

Desde tempos muito recuados que a carne de porco foi muito utilizada na alimentação das populações. Era a carne mais acessível aos estratos sociais mais pobres.
Na Idade Média, era vulgar os porcos andarem a vaguear pelas ruas de vilas e cidades. Mas a sujidade acumulada, o cheiro e alguns inconvenientes causados, começaram a preocupar as autoridades. Em Santarém, no século XV, há notícias de que os porcos, fossando pelos adros de igrejas, chegaram a desenterrar mortos que lá se encontravam sepultados. Em 1482 foi decretada, em Santarém, a proibição dos porcos andarem pelas ruas. Quem os quisesse criar, teria de os ter em casa ou prender em seus quintais. Porcos que fossem encontrados nas ruas, eram recolhidos e confiscados a favor do concelho. Ficava também estipulado que, quem encontrasse porco em liberdade, poderia caçá-lo, sem ficar sujeito a qualquer pena ou multa. O porco era alimentado e engordado ao longo de todo o ano. A matança costumava ocorrer durante o inverno:
"Eram mortos no tempo do frio,
O mais tardar pelas Janeiras,
Assim faziam o bom enchido
O belo chouriço das Beiras."
                     (in António dos Santos Vicente, Vida e Tradições...)

A matança do porco era ocasião festiva e pretexto para juntar a família, os vizinhos e amigos. A carne era salgada e também posta ao fumeiro, sendo a garantia que a subsistência estava assegurada, que havia carne para todo o ano. Por conseguinte, a matança do porco, para além do ritual da festa e convivialidade, constituía uma preciosa reserva para os tempos de crise.


É que, dentro das cancelas, estava o governo da casa dos pobres….

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Fontes: António dos Santos Vicente, Vida e Tradições nas Aldeias Serranas da Beira, s.l., s.n., 1995.
             José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra, Diário da História de Portugal, vol. 1,  Lisboa, Difusão Cultural, 1992
             (adapt.)
            Margarida Ribeiro, Estudo Histórico de Coruche, Coruche, Câmara Municipal, 1959.

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