Desconhecidos (Ijin-tachi tono natsu, 1987), de Taichi Yamada, é uma peculiar história fantástica. No frenético turbilhão de Tóquio, o protagonista e narrador — um amargurado argumentista de séries televisivas recém-divorciado — decide alojar-se no seu escritório, um enorme prédio com vista para uma conhecida e buliçosa autoestrada de Tóquio e destinado quase exclusivamente a empresas de serviços e onde, além do seu, só outro apartamento é habitado à noite. Num entardecer nostálgico, lembra-se de visitar o bairro da sua infância — atualmente delapidado — e, num teatro, depara-se com um homem extraordinariamente parecido com o seu pai antes de morrer, tal como o narrador se recordava dele 35 anos antes, que, em conversa aparentemente casual, o convida a tomar uma cerveja em sua casa — e cuja esposa é também extraordinariamente parecida com a sua mãe tal como era antes de morrer. Embora ambos lhe pareçam inteiramente reais e o venham a tratar como seu filho (sem mostrarem estranheza pelo facto de ele ser agora mais velho do que eles próprios), ele admite que se trate de uma estranha, complexa e repousante alucinação. A inebriante felicidade do narrador (revivendo o convívio com os seus pais mortos há muitos anos) com esses encontros contrasta com a sua marcada deterioração física, que só os outros, chocados, parecem ver.
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