quinta-feira, 30 de abril de 2020

sábado, 25 de abril de 2020

25 de abril - Símbolo da Liberdade Renovada


Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'





quinta-feira, 23 de abril de 2020

23 abril - "Porquê ler?"


“Porquê ler?”

in Pure Pleasure, de John Carey (2000, Faber and Faber, pp. ix-xii e xv-xvi)
(Tradução: Paulo Lopes)


«Ainda haverá livros no final do próximo milénio? A questão parece alarmista, mas é séria. Há mil anos, não havia propriamente grande frenesim livresco. A maior parte das pessoas era iletrada. A impressão tipográfica ainda não tinha sido inventada. Daqui a mil anos, as coisas poderão ser tão remotas como tudo o que agora podemos imaginar. Na obra When the Sleeper Wakes[1], de H. G. Wells, uma personagem chamada Graham sai de um transe cataléptico no ano 2200 e descobre que os livros são já obsoletos. Foram substituídos por vídeos que passam em ecrãs de televisão (designados “cinetoscopes”) e rotulados num inglês fonético tosco, que é o melhor que as pessoas logravam escrever.
(...)
Atualmente, a cisão entre pessoas que leem e pessoas que não leem é a maior divisão cultural, transversal a idade, classe e género. Nenhum dos lados compreende o outro. Para os não-leitores, os leitores parecem pedantes. Para os leitores, o enigma é a que é que recorrem os não-leitores para estimular as suas mentes. Se, no sobrepovoado mundo de amanhã, ler se tornar uma boia de salvação para a sanidade de quase toda a gente, esta cisão dissipar-se-á — o que seria uma ocorrência feliz, quer para as pessoas, quer para os livros.
É errado pensar que o que ganhamos com a leitura nem precisa de ser explicitado. Porque, se isso fosse assim tão óbvio, haveria mais leitores. Na prática, explicar os proveitos da leitura a não-leitores é extremamente difícil. E, além disso, suscita uma oposição articulada. Se alegamos que ler expande os nossos horizontes mentais e nos permite experienciar mais do que uma vida, os não-leitores respondem que essas são justamente as vantagens que o cinema e a televisão oferecem. Por isso, o que tem a leitura de especial?
O que tem de especial, estranhamente, é resultado de uma imperfeição do tipo de comunicação dos livros por comparação com a da televisão ou dos filmes. As imagens transmitidas na televisão ou nos filmes são um veículo de comunicação quase perfeito, porque se parecem com aquilo que representam. As palavras escritas não. São apenas marcas pretas no papel. Para representarem algo, têm que ser decifradas por um praticante competente. Embora leitores assíduos o façam instantaneamente, traduzir palavras impressas para imagens mentais é uma atividade incrivelmente complexa. Envolve uma capacidade imaginativa diferente da de outros processos mentais. Se a leitura acabar, esta capacidade desaparecerá — e as consequências são incalculáveis. Porque a leitura e a civilização cresceram juntas e não sabemos se uma pode sobreviver sem a outra. A capacidade imaginativa exigida pela leitura está claramente ligada, psicologicamente, com a aptidão para fazer juízos e a disposição para a empatia. Sem a leitura, estas faculdades podem definhar. Transpor palavras impressas para imagens mentais dá também à leitura uma dimensão mais criativa que o contacto com outros meios de comunicação, pois nenhum livro ou página é exatamente o mesmo para dois leitores diferentes. Não estou a advogar que o leitor é realmente o ‘autor’ do texto — uma moda entre teóricos da literatura do passado —, assim como um pianista que interpreta Chopin não é Chopin. Mas um leitor, tal como um pianista, está empolgado numa atividade intensamente criativa. Quem a pratica habitualmente constata o esforço que ela envolve assim que a suspende. Quando se interrompe a leitura de um livro e se começa a ver televisão, a impressão de relaxamento é imediata. Isso acontece porque uma grande parte da mente ficou inativa. As imagens lampejam diretamente para o cérebro. A nossa participação ativa não é requerida. Isto implica que uma democracia composta maioritariamente por consumidores de televisão é árida, do ponto de vista mental, quando comparada com uma democracia composta maioritariamente por leitores. A democracia moderna passou da segunda para a primeira na segunda  metade do século XX.
Como muitas pessoas não leem livros, ler é considerada uma atividade elitista. No entanto, não é mais elitista do que caminhar — ainda menos, aliás, porque o estado paga-nos para aprendermos a ler, ao passo que criar o hábito de caminhar fica entregue à iniciativa de cada um. E os livros não são apenas para os endinheirados. Podemos requisitá-los de graça em qualquer biblioteca pública. Algumas pessoas têm preguiça para ler ou caminhar, mas isso não tem nada que ver com elitismo. É certo que há leitores pretensiosos — e causam muitos danos. Eles insinuam, na opinião pública, a associação da leitura à presunção e ao falso refinamento, e afastam assim leitores potenciais.
(...)
Não me esqueci da personagem de H. G. Wells, Graham, e o mundo aterrador em que ele acorda. Além de um mundo sem livros, é tenebrosamente populoso. Densos magotes de gente berram e agitam-se em todo o lado. Graham vai-se abaixo e pede, lamuriento, para ser levado para um quarto onde possa estar só. Este cenário reflete o desânimo de Wells sobre a demografia. (...) Mas suponhamos que Graham, encolhido no seu acanhado quarto, com as ensurdecedoras multidões lá fora abalando as paredes, descobre, esquecida num canto, uma pilha de livros empoeirados. Descobre, quando os folheia, que são de um século que ele não conheceu (pois ele entrou no seu transe comatoso em 1899). Esses livros, para o fazerem esquecer a sua aflição, terão que ser verdadeiramente absorventes. Terão que abrir um caminho para a sua espiritualidade mais profunda. Terão que fazê-lo rir, às vezes, e querer continuar a viver. E terão, sobretudo, que ser capazes de encantar também alguns dos quase iletrados bárbaros lá de fora, que, graças à influência de Graham, poderão reintroduzir a leitura num mundo sem livros.»
            É um teste severo — mas felizmente qualquer biblioteca medianamente apetrechada contém livros que passam este teste.




[1]              Reescrita e publicada 11 anos mais tarde, 1910, sob o título The Sleeper Awakes. (N. do T.)

POEMAS DOUTRAS LÍNGUAS

OLGA CABRAL:

Gravação eletrónica encontrada numa garrafa

Caso este breve testamento humano
complete a sua odisseia
rompa as cortinas de meteoros incandescentes
cruze o furor de tempestades magnéticas
escape a turbilhões de hidrogénio
caia por eternas nebulosas escuras
se firme suavemente na Via Láctea
deslize ao longo da sua banda de luz
até às praias de um planeta desconhecido
num continente-estrela desconhecido
para ser achado e em ponderado 
assombro sopesado nas tuas mãos —
esta mensagem é para ti.

Previno-te de que vivi
numa pequena esfera nos subúrbios 
de uma estrela vulgar
que havia começado a declinar.
A nossa raça era um povo solar
mas morreu de doenças chamadas guerras.
A ti, nessas cidades imensas
com as tuas bibliotecas, fontes,
ou tu que ainda prosperas
em idades de gelo de ignorância —
quem ou ou o que quer que sejas
eis a mensagem final da terra:
amo-te amo-te amo-te.

Nada mais há a dizer
nada mais há de melhor aqui
e nada em todas as nebulosas espirais
foi tão delicado ou tão poderoso como isto.

       — Olga Cabral, in Tape Found in a Bottle (1971)

 

Electronic Tape Found in a Bottle 

If this small human testament
completes its odissey
clears the curtains of fiery meteors
crosses the rages of magnetic storms
rides free of hydrogen whirlwinds
falls throughcoalsack eternities
lands smoothly the Milky Way 
glides along its lightband
to the shores of an unknown planet
in an unknown star-continent
to be found and wonderingly
pondered held in your hands 
this message is meant for you.

Be advised that I lived on

a small green ball in the suburbs
of an unremarkable star
that had begun to run down.
Our race was a sun-people
but died of deseases called wars.
To you out there in star cities
with your libraries, fountains
or you who are still making it
through ice ages of ignorance 
whoever or whatever you are
here is earth's final message:
I love you I love you I love you.

There is nothing more to say

there is nothing better here
and nothin in all the spiraling nebulae
was as frail or as mighty as this.

                             — Olga Cabral, in Tape Found in a Bottle (1971)


Olga Cabral nasceu em 1909, em Trinidad. Os pais, de origem portuguesa, mudaram-se para Winnipeg, no Canadá, antes do seu primeiro aniversário, e, pouco depois, para Brooklyn, em New York. Em 1951, casou com o poeta,  crítico e editor Yiddish Aaron Kurtz. Por Tape Found in a Bottle (1971) ganhou o Prémio Emily Dickinson; o seu livro seguinte, Darkness Found in My Pockets (1976), foi contemplado com o Prémio Lucille Medwick (da Sociedade Americana de Poesia). Morreu em 1997. O seu curto obituário no New York Times reza assim: "Prestigiada poetisa e autora, enriqueceu as vidas de todos aqueles a quem tocou."  Eu encontrei-a num livro autobiográfico de Alice Sebold, Lucky, que narra a sua violação aos dezoito anos, por um desconhecido, e a sua trémula mas indómita vida até ao julgamento. Durante o assalto ao seu corpo, num dos seus momentos de aflição, ela refugiou-se na memória da poesia e em dois poemas em particular, um de Olga Cabral ("Lillian's Chair") e outro de Peter wild. 
[In https://kawisniewski.com/2018/03/15/spotlight-olga-cabral/]

23 abril - Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor

DIA MUNDIAL DO LIVRO - "Um livro no coração. Todos somos Livros."
Num ano conturbado em que, na cadeia do livro, todos somos precisos - escritor e ilustrador, editor, tradutor, revisor, designer, gráfica, distribuidora, livraria, mediador, biblioteca e, sobretudo neste momento, o LEITOR -, a ilustradora e designer Mariana Rio (Menção Especial do Prémio Nacional de Ilustração em 2019) concebeu a imagem do cartaz.
O Dia Mundial do Livro é comemorado, desde 1996 e por decisão da UNESCO, a 23 de Abril. Neste dia, comemora-se também o Direito de Autor.
Esta data foi escolhida com base na tradição catalã segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas uma rosa vermelha de S. Jorge, e recebem em troca um livro, testemunho das aventuras do heróico cavaleiro. Em simultâneo, é prestada homenagem à obra de grandes escritores, como Shakespeare, Cervantes e Garcilaso de La Vega, falecidos em Abril.
Se este ano vai ser difícil oferecer uma rosa, fácil será oferecer um livro. Vá à livraria da sua zona ou encomende online, e envie um livro para os que lhe são mais queridos.
Um livro no coração. Todos somos Livros.
Mariana Rio (n.1986) vive no Porto. É licenciada em Design Gráfico e em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Estudou também Academia de Belas Artes de Wroclaw, na Polónia. Apesar de muito nova, recebeu já vários prémios e distinções em Portugal e no estrangeiro.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

22 abril - Dia Mundial da Terra

Todos os anos, a 22 de abril, celebra-se o Dia Mundial da Terra.

Origem da data

A data foi criada em 1970, pelo senador norte-americano Gaylord Nelson que resolveu realizar um protesto contra a poluição da Terra, depois de verificar as consequências do desastre petrolífero de Santa Barbara, na Califórnia, ocorrido em 1969.
Inspirado pelos protestos dos jovens norte-americanos que contestavam a guerra, Gaylord Nelson, desenvolveu esforços para conseguir colocar o tema da preservação da Terra na agenda política norte-americana.
A população aderiu em força à manifestação e mais de 20 milhões de americanos manifestaram-se a favor da preservação da terra e do ambiente.

Atividades

Todos os anos, no dia 22 de abril, milhões de cidadãos em todo o mundo manifestam o seu compromisso na preservação do ambiente e da sustentabilidade da Terra. Neste dia de cariz educativo escrevem-se frases e poemas sobre a importância do planeta Terra nas escolas, entre outras atividades.
É possível juntar-se a atividades existentes, criar eventos próprios, doar dinheiro, ou tomar simples atos como plantar uma árvore ou separar o lixo, por exemplo.
O Dia Mundial da Terra conta já com mais de mil milhões de atos realizados em prol do ambiente ao longo da história. É o maior dia do ano para o planeta Terra, desejando que todos os habitantes do mundo realizem algum ato que o proteja. Este ato será uma espécie de semente para regar durante o resto do ano.

Impacto ambiental

Investigadores e associações ambientalistas alertam para o perigo e consequências do aquecimento global da Terra, nomeadamente:
  • aumento da temperatura global da Terra;
  • extinção de espécies animais;
  • aumento do nível dos oceanos;
  • escassez de água potável;
  • maior número de catástrofes naturais, como tempestades, secas e ondas de calor.


segunda-feira, 20 de abril de 2020


Fica a sugestão de um site sobre livros, leituras...: 

https://euleioemcasa.pt/



domingo, 19 de abril de 2020

A Biblioteca Escolar no Plano da E@D



Consulta o roteiro em:

https://www.rbe.mec.pt/np4/np4/?newsId=2546&fileName=A5.pdf

e  verifica como podes contar com a BE e a sua equipa nesta nova etapa.

   Estamos todos juntos à distância de um clique!!


E@D - Algumas dicas para o ensino à distância



De regresso ao 2.º semestre - Novos Desafios

Hossana Junquem de flores o chão do velho mundo: Vem o futuro aí! Desejado por todos os poetas E profetas Da vida, Deixou a sua ermida e meteu-se a caminho. Ninguém o viu ainda, mas é belo. É o futuro... Ponham pois rosmaninho Em cada rua, Em cada porta, Em cada muro, E tenham confiança nos milagres Desse Messias que renova o tempo. O passado passou. O presente agoniza. Cubram de flores a única verdade Que se eterniza! Miguel Torga, in "Poesia Completa"




quinta-feira, 9 de abril de 2020

Feliz Páscoa


Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Dual


quinta-feira, 2 de abril de 2020

2 abril - Dia Internacional do Livro Infantil

No dia 2 de abril comemora-se em todo o mundo o nascimento de Hans Christian Andersen.
A partir de 1967, este dia passou a ser designado por Dia Internacional do Livro Infantil, chamando-se a atenção para a importância da leitura e para o papel fundamental dos livros para a infância.
Como é habitual, para assinalar o Dia Internacional do Livro Infantil, a DGLAB disponibiliza um cartaz, este ano da autoria de André Letria, vencedor do Prémio Nacional de Ilustração em 2019.Para comemorar o dia dedicado a Hans Christian Andersen, o IBBY Internacional divulga, ele próprio, um cartaz e uma mensagem. Este ano da responsabilidade da Eslovénia, o texto é da autoria do escritor Peter Svetina, e o cartaz foi criado por Damijan Stepančič. Encontra-se abaixo uma possível tradução do texto, feita a partir das versões inglesa, francesa e espanhola. https://www.ibby.org/awards-activities/activities/international-childrens-book-day/2020-icbd-slovenia
O tema deste ano é «Fome de palavras», aqui bem representado pela ilustração de André Letria. André Letria, 46 anos, trabalha como ilustrador desde 1992, tendo já feito também cinema de animação e cenografia para teatro. A par do trabalho amplamente premiado, é ainda editor da Pato Lógico, que fundou em 2010. A longa lista de livros já publicados inclui, entre outros, Lendas do marVersos de fazer ó-óOs animais fantásticosDomingo vamos à Luz ou Se eu fosse um livro  todos feitos em parceria com o pai, José Jorge Letria , mas também Mar, com Ricardo Henriques, e a coleção de livros-harmónio em nome próprio. Chico Buarque, José Luís Peixoto e José Saramago foram alguns autores que André Letria também ilustrou. Com A Guerra, publicado em 2018, recebeu numerosos prémios nacionais e internacionais, destacando-se o Prémio Nacional de Ilustração (DGLAB) em 2019, mas também o Prémio BIG – Bienal de Ilustração de Guimarães 2019, o BIB Plaque 2019 de Bratislava, o Grande Prémio do Nami Concours 2018, o Little Hakka 2018, etc.




FOME DE PALAVRAS 

Na minha terra, os arbustos florescem em finais de abril, início de maio, e logo se enchem de casulos de borboletas. Parecem bolas de algodão ou pedacinhos de algodão doce, mas as crisálidas que ali de desenvolvem devoram folha após folha, até os arbustos ficarem despidos. Quando as borboletas saem destes casulos, iniciam os seus voos delicados, mas os arbustos não são destruídos. E quando chega o Verão, florescem novamente, e assim acontece ano após ano.

É isto que sucede ao escritor e ao poeta. São devorados, esvaziados pelas suas histórias ou poemas: quando estes já estão escritos, saem a voar para acabar nos livros e poderem encontrar os seus ouvintes ou leitores. E isto repete-se uma vez, e outra vez.

O que acontece aos poemas e às histórias? Conheço um menino que foi operado aos olhos. Depois da cirurgia, teve de ficar duas semanas deitado sobre o lado direito. Durante um mês, não pode ler, não pode ler mesmo nada. Quando ao fim de um mês e meio pegou finalmente num livro, parecia que o livro era uma tigela onde apanhava palavras à colher. Como se as comesse. Como se verdadeiramente as comesse.

Conheço uma rapariga que cresceu e é agora professora. Disse-me: coitadas das crianças a quem os pais não leem livros.

As palavras nos poemas e nos contos são comida. Não são comida para o corpo: ninguém pode encher o estômago com elas. São comida para o espírito e para a alma.

Quando temos fome e sede, o estômago encolhe-se e a boca seca. Procuramos um pedaço de pão, um prato de arroz, de milho, um peixe ou uma banana. Quanto mais fome se tem, mais a atenção diminui, e já não se vê mais nada para lá do pedaço de comida que nos saciaria.

A fome de palavras não se manifesta deste modo, mas adquire a forma da melancolia, do esquecimento, da arrogância. As pessoas que sofrem este tipo de fome não percebem que as suas almas tremem de frio e lhes passam ao lado. Uma parte do mundo foge-lhes das mãos sem que disso tenham consciência.

Esta fome pode ser saciada com contos e poemas.

Mas haverá esperança para aqueles que nunca se alimentaram de palavras para satisfazer a fome?

Sim, há. O menino lê quase todos os dias. A menina que já cresceu e se tornou professora lê histórias aos seus alunos. Todas as sextas. Todas as semanas. Se um dia se esquecer, os alunos vão lembrá-la.

E quanto ao escritor e ao poeta? Quando chegar o Verão, ficarão novamente verdes. E mais uma vez serão comidos pelas histórias e pelos poemas que escrevem, que voarão em todas as direções, como borboletas. Uma vez, e ainda outra vez.

Peter Svetina (n. 1970, Ljubljana, Eslovénia)
Tradução: Maria Carlos Loureiro


Histórias para escutar e ver:
blogues.publico.pt/letrapequena/2016/06/06/livros-para-escutar-e-ver-2/#.XnYFaxdGiAY.facebook

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Tutoriais sobre Ferramentas Educativas


Deixo-vos o link para um padlet muito bem organizado, da autoria do colega CIBE Carlos Pinheiro, com tutoriais sobre ferramentas educativas, que podem usar e partilhar: 

https://padlet.com/ladonordeste/qx3zix3cqkjj